segunda-feira, 7 de março de 2011

Bruna surfistinha


http://www.cinemaqui.com.br/wp-content/uploads/2011/03/bruna-surfistinha-poster.jpgwww.milenymaya.blogspot.com
 As criticas que vi sobre o filme fizeram assistir, e  a estar em uma sala de cima para ver o mesmo(na ocasião salas lotadas na sua maioria homens de meia idade e desacompanhados) dentre elas a melhor critica foi a deVinicius Carlos videira domais deixo a vocês caros leitores de Mileny maya a apreciar esta critica que fala mais do que eu mesma sobre BRUNA SURFISTINHA .



Eu raramente (ou quase nunca) me sinto confortável escrevendo sobre filmes na primeira pessoa, como se um pequeno alarme soasse no fundo de meu cérebro me lembrando das aulas na faculdade, mas enfim, se o farei agora não será pela qualidade do filme, nem pelo contrário. Bem verdade “Bruna Surfistinha” não é mais que uma daquelas tentativas medianas de embarcar em um momento que favoreça o assunto, mas sim uma que acaba tendo sua validade para mim (por isso a primeira pessoa), justamente pela fragilidade de tudo aquilo que veio antes dele. Primeiro foi o blog, com que a garota de programa, vulgo Bruna Surfistinha, fez um enorme sucesso na internet contando sobre suas experiências e seu passado de patricinha (tendo como ponto alto as notas e os comentários sobre cada programa seu durante o dia). Depois veio o livro, “O Doce Veneno do Escorpião”, com o qual eu esbarrei em uma doação de uma biblioteca e não pude conter a curiosidade. Por fim, baseado no Best Seller, veio o filme. O importante disso tudo é tentar entender como, tanto o diário digital quanto a biografia, dois produtos narrativamente pobres, desinteressantes e pouco empolgantes, podem resultar em uma produção que, se não é um mar de acertos acaba se mostrando tremendamente esforçada.
Não sou uma assumidade literária, nem tento ser, mas é impossível acabar de ler o livro e não sentir uma falta de sentimento incrível para um produto que tenta vender uma imagem muito mais empolgante que seu resultado. Sem uma linha expressiva à ser seguida, diluída entre a vontade de contar suas experiências e a necessidade de achar uma razão para tudo aquilo, “O Doce Veneno do Escorpião” é equivocado, no entanto, serve como a base perfeita para o roteiro do trio José Carvalho, Homero Olivetto e Antonia Pellegrinno, que caminha grudado naquelas páginas, mas ao mesmo tempo parece terem o discernimento perfeito para abrir aquelas tais exceções que mais prejudicam a vida das adaptações.
Olhando só para o filme, o resultado talvez se mostre cheio de atalhos preguiçosos, como a adolescência tomada pelo preconceito, a luta pela independência, a fama, a lama e a volta por cima, mas é no modo como tudo isso sai de um texto tão sem sentido quanto o do livro que é que mais surpreende. Mais ainda, o modo como o texto do trio não se prende àquelas amarras reais que tanto prejudicam a ficção. Em uma trama cheia de concessões, o que vale mais é contar aquela história do jeito que faça mais sentido como cinema, não como verdade.
Se o livro tem uma carência enorme de personagens rodeando esse mundo egocêntrico da protagonista, aqui, é fácil perceber o quanto a presença marcante de Drica Morais como a primeira cafetina da personagem ajuda o filme a andar à passos firmes. Do mesmo modo que se sente tranquilamente mais a vontade para povoar esse mundo com algumas outras amigas e parceiras de profissão para animar e dar mais ritmo a toda experiência. Assim como também na hora de criar um vínculo muito maior da personagem com certos clientes, como o vivido por Cássio Gabos Mendes, que dá as caras várias vezes durante a trama e serve como uma espécie de válvula de escape da protagonista com o mundo que orbita o seu.
Carvalho, Olivetto e Pellegrinno, fazem tudo isso de um jeito coloquial, é verdade, onde cada um sentado naquela sala de cinema vai ser capas de adivinhar o rumo daquela trama bem antes dela acontecer, mas um aparente carinho com o material original, e como o jeito “diário de uma prostituta” do mesmo, pintado de detalhes picantes, pitorescos e bem humorados, fazem com que “Bruna Surfistinha” acabe resultando em algo bem humorada e interessante, que tem lá seu perfil “lição de moral” e otimista, mas durante a maioria do tempo sobrevive por tentar mostrar para o público um pouco desse mundo que a maioria não conhece, mas com o sentido e a linha narrativa que, tanto o blog quanto o livro, não conseguiram encontrar.
Por outro lado, a direção do estreante Marcus Baldini, só ajuda mais a fazer com que o filme funcione. Ainda que um pouco reticente com o visual que parece querer imprimir, ora com um tom mais plástico, jogando com o foco da câmera e um olhar que resulta em composições que deixam a imagem respirar, seu lado mais prático e objetivo acaba se tornando muito mais satisfatório para a história, um lado que não fraqueja em ser sensual e visceral, satisfazendo àqueles que irão ao cinema em busca de um pouco de histórias e cenas picantes. Que se mostram na medida entre a força, a coragem e um modo explícito e exagerado que talvez afastasse demais o público dos cinemas (o que eu não acredito que irá acontecer).
Por fim, a presença de Débora Secco, no papel título, ajudará aos números das bilheterias, mas decepcionará muita gente que for à procura de alguma experiência reveladora da carreira da atriz. Mesmo se esforçando bastante para caminhar dessa jovem insegura até essa mulher decidida, não tendo o menor pudor com sua imagem de atriz de novela e se deixando levar pelas necessidades de sua personagem, infelizmente acaba caindo em atalhos mais fracos até que o roteiro, talvez até em parte pela falta de experiência do diretor com seu elenco. Sua Bruna, ou Rachel (nome verdadeiro da personagem) se resume na adolescência a um joelho torto e um pé pisando para dentro, com a ajuda apenas de uma franja fora de moda, do mesmo jeito que seu lado junkie, tomado pelas drogas, se obriga a cerrar os olhos e entreabrir a boca, ao mesmo tempo em que exagera demais como sua personagem sentando sempre com as pernas abertas e sem classe, algumas características que, em um conjunto de outras nuances talvez resultassem em uma composição rica, mas aqui só demonstra uma falta de preparo na hora de tentar entender quem era aquela personagem, e não o que ela representa.
Mas de qualquer modo, “Bruna Surfistinha” (que leva o nome da personagem enquanto o nome do livro seria muito mais interessante para o filme) não vai decepcionar quem for ao cinema curioso com a história dessa mulher, que extrapolou um pouco uma sociedade hipócrita e preconceituosa com uma fama que, mesmo passageira, é bem interessante de tentar ser entendida.

Nenhum comentário: